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AVALIANDO PRÁTICAS FORMATIVAS DE GESTORES PÚBLICOS DE EDUCAÇÃO ESPECIAL DA REGIÃO SUL/SERRANA DO ESPIRITO SANTO
Janaina Borges Alves, Meiriane Linhaus de Sousa Barros, Mariangela Lima de Almeida

Última alteração: 2017-01-31

Resumo


Resumo

O texto busca analisar as práticas formativas instituídas no ano de 2015 pelos gestores públicos municipais de Educação Especial das Regiões Sul/Serrana do Estado do Espírito Santo, práticas essas discutidas durante o percurso do grupo de estudo-reflexão, constituído pelos gestores e pesquisadores da Universidade Federal do Espirito Santo. Utilizando a pesquisa-ação colaborativo-crítico como pressuposto teórico-metodológico a partir do diálogo com a teoria do agir comunicativo de Habermas. Destacamos para análise o momento do I Seminário Capixaba de Pesquisa-Ação e Educação Especial (SCPAEE), mais expressamente os resumos dos textos enviados que enfatizam as possibilidades de constituição de processos formativos a partir da pesquisa-ação.

Palavras-chaves: Gestores públicos de Educação Especial; Práticas Formativas; Pesquisa-ação colaborativo-crítica.

 

Introdução

Cada vez mais os movimentos internacionais e normatizações legais em âmbito nacional passa a exigir dos estados e municípios a proposição e implementação de políticas públicas que assegurem a educação dos sujeitos público-alvo da educação especial no ensino comum. Estudos que analisam esse movimento em municípios brasileiros (PRIETO, PAGNEZ, GONZALEZ, 2014; CAIADO, LAPLANE, 2009; LOUREIRO, CAIADO, 2013; GONÇALVES, 2008; ALMEIDA, JESUS, CUEVAS, 2013) indicam a busca do órgão gestor municipal em assegurar que as reformas propostas sejam efetivadas em seus sistemas de ensino. Essa configuração passou a exigir dos gestores municipais a condução de políticas públicas garantidoras da educação como direito de todos (CÔCO, 2014).

Mediante a esse quadro e do movimento empreendido nos últimos anos pelo grupo de pesquisa na UFES[4], que se trabalha com a formação continuada, as políticas públicas para Educação Especial e a prática pedagógica inclusiva, é que a partir de março/2013 tem início à pesquisa intitulada Processos de Formação Continuada de Profissionais desencadeados pela Gestão de Educação Especial: a Região Sul do Estado do Espírito Santo[5], que busca investigar tais processos e seu movimento nos lócus de atuação dos profissionais, abrangendo uma perspectiva de formação diferenciada, ao assumir, no grupo de pesquisa-formação, a metodologia da pesquisa-ação colaborativo-crítica (KARR E KEMMIS, 1988; BARBIER, 2004), sustentada na teoria do agir comunicativo de Habermas (1987).

Buscamos analisar para este estudo, o SCPAEE, que teve como objetivo proporcionar oportunidades de aprofundamento epistemológico e metodológico sobre a pesquisa-ação na interface com a Educação Especial, envolvendo pesquisadores, profissionais da Educação e estudantes de diferentes instituições de ensino superior do Brasil, fazendo dialogar os pressupostos desta metodologia de pesquisa com questões presentes em redes de ensino municipais e estaduais, tanto do Espírito Santo quanto de outros Estados.

Para atender ao objetivo deste texto, buscamos por meio dos relatos dos gestores expressos nos resumos dos textos enviados para o Seminário dialogar acerca das reflexões que realizam sobre as possibilidades de constituição de processos formativos a partir da pesquisa-ação. Para tanto, realizamos a partir de (BARDIN, 1994) a análise de conteúdo nos aprofundando e compreendendo os sentidos e significados atribuídos pelos gestores em seus resumos.

A Pesquisa-Ação Colaborativo Crítica: constituindo práticas inclusivas de formação

O estudo de Kuster, Astori e Bernardes (2016) coloca em análise implicações teórico-metodológicas da pesquisa-ação no processo de constituição da formação continuada em Educação Especial na perspectiva da inclusão feita com professores da Educação Especial e auxiliares/estagiárias da rede municipal de ensino de Domingos Martins (ES). Trazendo o seguinte questionamento:

Considerando o espaço de formação em seu aspecto produtor de conhecimento, um problema irrefutável se coloca no ato da feitura desse espaço, a saber: em que consiste essa produção de conhecimento? E qual a implicação dos professores e auxiliares/estagiárias nessa produção de conhecimento? (KUSTER, ASTORI, BERNARDES, 2016, p. 01.)

É por meio do entendimento mútuo, do diálogo aberto, que o processo de construção de conhecimento vai de construindo. “Inicialmente, foi apresentada a proposta para todos os pedagogos da rede municipal, seguida da aplicação de um questionário. Foram detectadas, a partir da análise dos dados dos questionários, algumas demandas dos profissionais” (BUSS; ESPÍNDULA, 2016).

Há uma relação direta entre teoria e prática e, nessa mediação, um dos principais elementos é o modo como o grupo vai elaborando seus teoremas críticos (HABERMAS, 2002). Os teoremas, embora consistentes com o discurso científico, constituem-se em um grupo “[...] caracterizado por um objetivo em sua situação de interesses” (HABERMAS, 2002, p. 40).

O resultado se dá na própria participação dos gestores quanto a escrita publicada, tendo assim, um empoderamento e autonomia do profissional de gestão da educação especial, em se enxergar enquanto produtor de conhecimento, que produz saber e de pesquisador de sua própria prática.

Quando o foco é a formação de profissionais docentes, o contexto do vivido é tomado como compromisso ético-político do grupo e trabalha-se no sentido de mudança percebida como necessária para a transformação, num movimento simultâneo de emancipação dos sujeitos e das condições vividas, pela via do conhecimento-crítico dos contextos individuais e sociais (JESUS, 2008, p. 150).

 

Esse movimento de transformação e mudança é assumido como princípio político, epistemológico e teórico pelos gestores.

Após pesquisa realizada com os professores do nosso município, identificamos a necessidade de transformarmos a teoria em prática, visto que, muitos participam de cursos, onde aprendem somente a teoria, ou muitos apenas se apropriam do certificado com facilidade em comprá-lo [...] enfrentamos dificuldades, mas, o reconhecimento na formação inclusiva é um motor para a construção de experiências bem-sucedidas onde a educação é de qualidade e verdadeiramente para todos (MELO, 2015, p.1 e 2).

 

A condução política habermasiana é assumida no movimento de empoderamento dos gestores que se constituem em grupo de estudo.

 

A formação encontra-se em desenvolvimento, mas já se observa o fortalecimento e empoderamento desse grupo de profissionais em sua constituição como grupo de estudos, bem como com novos olhares sobre suas práticas educativas, em que se posicionam como gestores pedagógicos e agentes formadores no processo ensino aprendizagem, principalmente no aperfeiçoamento das metodologias de ensino. (BUSS; ESPÍNDULA, 2015, p.2).

 

 

Concordamos com Monceau (2005), que a pesquisa ação se constitui como movimento e dispositivo de trabalho, onde todos, em colaboração se colocam a refletir sobre saídas para determinado problema cujo seu fim é a produção de conhecimentos novos.

Os princípios teóricos metodológicos da pesquisa-ação têm servido, nesse espaço de formação, de operador de análise de nossa relação com o conhecimento e com os saberes cotidianos. Alinhavado em seu princípio metodológico de “fazer com”, vem-se interrogando toda relação que separa e hierarquiza, na produção de conhecimento, os que sabem e os que não sabem, os que produzem conhecimento e os outros que supostamente não (KUSTER; ASTORI; BERNADES, 2015, p.2).

 

Considerações finais

Sem dúvidas o que marca o potencial desse grupo foi/é a elaboração dos projetos políticos de formação continuada, que foi construído e pode-se ver sua materialização nos textos analisados, sobretudo por se constituírem no movimento de autonomia e autoria do próprio grupo dos gestores com a colaboração dos pesquisadores da UFES, amigos-críticos (CARR; KEMMIS, 1988).  O processo de “adotar” como metodologia de formação a pesquisa-ação aproximando a prática da teoria, partindo da realidade concreta para a superação dos desafios. Assim como a tomada de consciência por parte do grupo como real pesquisador, produtor de novos conhecimentos.

 

Referências

ALMEIDA, M. L. ; JESUS, D. M. (Denise Meyrelles de Jesus) ; CUEVAS, M. R. C. . Formação continuada de gestores públicos de educação especial pela via da pesquisa‐ação: o caso da região sudeste e do Caparaó/ES. In: Sonia Lopes Victor; Rogério Drago; Edson Pantaleão. (Org.). Educação Especial no Cenário Educacional Brasileiro. 1ed.São Carlos: Pedro &João, 2013, v. 01, p. 101-126.

BARBIER, R. A pesquisa-ação. Tradução de Lucie Didio. Brasília: Líber Livro Editora, 2004.

BARDIN, L.. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70. 1994.

BUSS, J. J.; ESPÍNDULA, V. Gestão Pedagógica e Formação Continuada: Diálogos Possíveis/Necessários entre Educação Geral e Educação Especial. Ebook Seminário Capixaba de Pesquisa-Ação e Educação Especial. No prelo.

CAIADO, K. R. M.; LAPLANE, A.L.F. Programa Educação inclusiva: direito à diversidade:  uma análise a partir da visão de um município-pólo. Educação e Pesquisa, v. 35, p. 303-315, 2009.

CARR, W.; KEMMIS, S. Teoría crítica de la enseñanza: la investigación-acción en la formación del profesorado. Tradução de J. A. Bravo. Barcelona: Martinez Roca, 1988.

CÔCO, V. A configuração do órgão gestor da educação municipal: abrangência, espacialidade e orquestração do trabalho. In: CÔCO, V. (Org.). Desafios na gestão: secretarias municipais de educação. PROEX/UFES: Vitória, 2014, p. 16-41. comparada. Educ. Soc., Campinas, v.25, n.89, p.1301-1332, 2004.

GONÇALVES, A. F. S. As políticas públicas e a formação continuada dos professores: na implementação da inclusão escolar no município de Cariacica. 2008.Tese (Doutorado em Educação) Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2008.

HABERMAS, J. Técnica e ciência como ideologia. Tradução de Artur Morão. Lisboa:Edições 70, 1987.

______ . Teoría y praxis: estudios de filosofia social. Tradução de Salvador MasTorres y Carlos Moya Espí. 4. ed. Madrid: Tecnos, 2002.

JESUS, D. M.  O que nos impulsiona a pensar a pesquisa-ação colaborativo-crítica como possibilidade de instituição de práticas educacionais mais inclusivas? In: BAPTISTA, C. R.; CAIADO, K. R. M.; JESUS, D. M. (orgs.). Educação Especial: diálogo e pluralidade. Porto Alegre: Mediação, 2008. P. 139-159.

KUSTER, P. S.; ASTORI, G. G. G. Reverberações entre pesquisa-ação e formação continuada: um breve ensaio. In: SEMINÁRIO CAPIXABA DE PESQUISA-AÇÃO E EDUCAÇÃO ESPECIAL, 2015. Vitória. Anais.... Vitória. Universidade Federal do Espírito Santo. 2016. No prelo.

LOUREIRO, A. D. T. ; CAIADO, K. R. M.. Educação Especial na educação básica: análise de matrículas em um município paulista. Cadernos de Pesquisa em Educação PPGE-UFES. Vitória, v. 19, p. 39-58, 2013.

MELO, J. P. de. Os desafios que permeiam a prática do professor no processo educacional no município de Itapemirim. Ebook Seminário Capixaba de Pesquisa-Ação e Educação Especial. No prelo.

MONCEAU, Gilles. Transformar as Práticas para Conhecê-las: pesquisa-ação e profissionalização docente. Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 467-482, set./dez. 2005.

PRIETO, Rosângela Gavioli; PAGNEZ, Karina Soledad Maldonado Molina; GONZALEZ, Roseli Kubo. Educação especial e inclusão escolar: tramas de uma política em implantação. Educ. Real.,  Porto Alegre ,  v. 39, n. 3, p. 725-743,  set.  2014 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-62362014000300006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  19  abr.  2016.  http://dx.doi.org/10.1590/S2175-62362014000300006.


[1] Curso de Pedagogia/UFES. Bolsista de Iniciação Cientifica – PIBIC. Email: janainaborges25@live.com

[2]Curso de Pedagogia/UFES. Bolsista de Extensão PIBEX– PROEX/UFES. Email: meiriane.linhaus@gmail.com.

[3] Departamento de Educação, Política e Sociedade da Universidade Federal do Espírito Santo – CE/UFES. Programa de Pós-Graduação em Ensino, Educação Básica e Formação de Professores – CCA/UFES.  Email: mlalmeida.ufes@gmail.com.

 

[4] Grupo de pesquisa: Educação Especial, Práticas Pedagógicas e Politicas de Inclusão escolar. (CNPq)

[5] Pesquisa coordenada pela Profª. Drª.  Mariangela Lima de Almeida. (CNPq).